Autor: Eng. Sérgio Couto (2023)
Eu poderia começar este “post” dizendo que o monitoramento da produção, dentro da transformação digital, poderia ser uma alternativa para a base competitiva da empresa ganhar mais pedidos, mas, isso deixou de ser uma verdade! O monitoramento da produção passou a ser uma estratégia importante na competição. Quem surfar essa onda vai continuar no mercado e quem não fizer isso vai tomar um caldo e pode se afogar nas ondas do mercado, que são muito turbulentas.
A Importância do Monitoramento do Fluxo de Produção
Para entendermos a importância do monitoramento do fluxo de produção, existem uma grande quantidade de variáveis de entrada, como, o pedido do cliente, o tempo que a engenharia leva para liberar a estrutura do produto para o processo, a elaboração do processo, a roteirização, o planejamento das ordens de produção e de fabricação, a programação da produção em função da disponibilidade de recursos para realizá-la, e os recursos para a fabricação, todas essas variáveis estão atreladas a variável tempo que vai compor o “lead time”, ou prazo de entrega.
O “lead time” ou prazo de entrega é composto de duas áreas importantes:
1. A gestão do fluxo de fabricação;
2. A gestão das operações onde estão as máquinas e equipamentos ou mesmo os recursos de fabricação.
Segundo Taichi Ohno, um dos idealizadores do sistema Toyota de Produção,” é na gestão do fluxo que se ganha dinheiro, pois, ele representa 95% do “lead time” e a gestão das operações somente 5%”.
Investir em maquinário é a melhor saída?
O que se vê normalmente é a indústria/empresário investindo como prioridade na gestão das operações, comprando máquinas e equipamentos de última geração. Muitas vezes fazem investimentos de milhões de dólares em equipamento, mas a eficácia do ecossistema de manufatura fica abaixo do recomendado que é um OEE – 85%, a média brasileira está ao redor de 30%, esse é um lado da moeda, o outro lado da moeda é onde está a oportunidade de melhorar a eficácia da empresa investindo na gestão do fluxo de fabricação.
As empresas com gestão administrativa e contábil avançadas, estão preocupadas com o ROI – Retorno Sobre o Investimento, embora seja muito importante, este indicador ainda carece de informações técnicas que possam refletir no resultado contábil de uma empresa.
O que a empresa necessita para competir
A correlação entre um DRT – Demonstrativo de Resultados Técnicos – esperados num eventual investimento em transformação digital, e aqui estamos falando somente do monitoramento do fluxo de fabricação total, dependem de um cenário que vai avançar gradativamente na direção daquilo que a empresa necessita para competir, e alguns fatores podemos analisar:
- Empresas com prazo de entrega incompatível com a velocidade da demanda do mercado.
O prazo de entrega, além de ser uma variável importante na competição, ele vai contribuir para três fatores importantes:
A) Fluxo de caixa positivo;
B) Diminuição da necessidade de capital de giro próprio ou de terceiros;
C) Redução de custos por eventual pagamento de juros por tomada de capital de giro de terceiros. - Empresas com custos incompatíveis com o preço que o mercado está disposto a pagar.
Como o preço é o mercado quem faz, então se analisarmos a equação matemática da formação de preços tradicional:
Preço = Custo + Lucro
Mas o que as empresas desejam é ter lucro, então a equação ficaria assim:
Lucro = Preço – Custos
Mas, como o preço foge das atribuições internas da empresa, tornando-se uma variável fora de controle da empresa, então:
Lucro = – Custos
A variável sob controle da empresa, então, é a constante redução de custos, sinalizado a partir do Preço que o mercado está disposto a pagar.
3. Qualidade
Essas 3 variáveis importantes na competição de uma empresa esbarram em “6 grandes perdas”, que estão ocultas no fluxo, aparecendo como grandes “lombadas” que reduz a velocidade de entrada em operação. Somente podem ser visualizadas a partir de um monitoramento do fluxo de produção em tempo real para se combater as causas:
As 6 grandes perdas
- Perdas de tempo por máquina parada (diminuição da utilização da disponibilidade)
– Falhas de ferramentas
– Manutenção não planejada
– Falha do equipamento - Tempos de setup e ajustes (diminuição da utilização da disponibilidade)
– Configuração/Setup
– Falta de materiais
– Falta de operador
– Tempo de aquecimento - Pequenas paradas (perda de velocidade)
– Fluxo obstruído
– Erros de alimentação
– Sensor bloqueado
– Limpeza/Verificação - Velocidade reduzida (perda de velocidade)
– Produção com dificuldades
– Abaixo da capacidade especificada pelo fabricante da máquina
– Desgaste do equipamento
– Ineficiência do operador - Rejeição de Inicialização (perda de qualidade)
– Refugo
– Retrabalho
– Danos do processo
– Expiração do processo
– Montagem ou preparação incorreta - Rejeições da Produção (perda de qualidade)
O mesmo que perdas por rejeição de inicialização
O pior inimigo é aquele que permanece oculto
O resultado da coleta de dados de produção e seu monitoramento é tornar as causas aparentes para serem combatidas, o pior inimigo é aquele que permanece oculto, tem como indicadores:
- O OEE, cujo índice de classe mundial é de 85%, ele está atrelado a 3 variáveis, que são: Disponibilidade, Desempenho e Qualidade.
- O OTIF – On-Time In Full que monitora a precisão do prazo de entrega full, ou seja, se um pedido tem 5 itens, ele somente será considerado como 100% atendido quando a empresa entrega totalmente o pedido e não parcialmente.
Quanto mais próximo de 100% de acerto no prazo de entrega maior será a satisfação do cliente e será muito grande a probabilidade da repetição de novos pedidos.
O que ocorre nas empresas que ainda estão distantes da implantação de um sistema de monitoramento, são utilização de planilhas que não refletem os resultados em tempo real como reza os fundamentos da indústria 4.0. A utilização de planilhas podemos comparar ao motorista que queira dirigir o carro olhando pelo retrovisor a estrada que já passou.
O monitoramento em tempo real é uma estratégia para empresas que desejam vencer na competição ou ser protagonista em seu negócio, portanto deixa de ser uma alternativa!
O ROI vai se formando a partir de uma formação do DRT – Demonstrativo de Resultados Técnicos, com base no indicador de eficácia denominado de OEE – Overall Equipment Effectiveness -ou em português, Indicador de Eficácia dos equipamentos.
Lá no início, eu disse que erram as empresas que investem na gestão das operações, isto porque, investem na eficiência e não na eficácia, ou seja, eu posso ter adquirido um equipamento de alta tecnologia com alta eficiência, mas, analisando a luz de um ecossistema de manufatura como um todo contribui com muito pouco para a eficácia do todo. A manufatura é um ecossistema holístico onde o todo é mais importante que a parte.